Capítulo 6
1 Jesus ensina a seus seguidores o caminho da verdadeira adoração e comunicação com Deus. O primeiro passo é a humildade, em contraste com o estilo dos fariseus, escribas, publicanos e gentios, que viviam uma religiosidade apenas de aparência, formal e estéril. Os discípulos deveriam também evitar as "vãs repetições", pois essa era a maneira como os pagãos (aqueles que não passaram pelo batismo, também chamados de "gentios") tentavam sensibilizar seus deuses para obter favores. Nessa época, os adoradores de Baal (1Rs 18.26-28) estavam cativando até judeus fiéis com suas hipocrisias (encenações teatrais, do grego hupokrites, ator). Por isso Jesus oferece um modelo de oração: O nascimento espiritual dá ao cristão o direito de ser filho de Deus (Jo 3) e, portanto, pode orar a Deus como quem conversa com seu pai amado (em aramaico: Abba, Mc 14.36; Rm 8.15, Gl 4.6). Devemos desejar e trabalhar pelo estabelecimento do Reino de Deus, em nossas vidas e comunidades, ao receber pessoalmente o Espírito Santo, que traz salvação, paz, alegria, e a justiça de Cristo. Reino esse que será estabelecido de forma plena no futuro iminente, quando Jesus voltar, e o último Inimigo for vencido definitivamente (2Ts 2.8; 1Co 15.23-28). Assim a terra usufruirá a mesma glória de Deus que há nos céus (2Pe 3.13). O cristão reconhece que é o Senhor quem supre diariamente todas as nossas necessidades, e é grato por isso. A fome, as guerras e outros sofrimentos sociais não ocorrem por indiferença da parte de Deus, mas pelos pecados dos indivíduos (malignidade) e das nações. Devemos nos lembrar de perdoar as pessoas que nos devem (bens materiais ou justiça) com a mesma misericórdia e generosidade com que Deus nos perdoa sempre (1Jo 1.5-9). Observemos como Jesus ressalta a importância do perdão no Reino de Deus (6.14,15). O servo do Senhor é o alvo favorito dos ataques e artimanhas do Diabo. Mas Deus tem o poder de nos livrar de todo o mal e levar-nos, para lugar seguro, longe do alcance dos demônios. Não há amargura, decepção, fraqueza, vício, perda ou dor maiores do que o amor e o poder de Deus (Tg 1.13; 1Co 6.18; 10.14; 1Tm 6.11; 2Tm 2.22). A maioria das versões da Bíblia em português inclui a frase: "...e não nos deixes cair em tentação, mas
livra-nos do mal...". A KJ apresenta a expressão inglesa: "...and do not lead us into temptation..." (...e não nos induzas à tentação...). Os melhores originais gregos nos permitem traduzir: "...e não nos conduzas à tentação...". A palavra grega peirasmos aqui significa "tentação", podendo significar também: "teste ou provação" em outros trechos. Assim, a tentação, que do ponto de vista do Diabo é sempre uma cilada para nos destruir, do ponto de vista de Deus é uma oportunidade para fortalecimento da fé e crescimento espiritual (Lc 22.32). Deus controla o universo visível e invisível, incluindo o Maligno e seu reino; por isso, é ao Senhor que devemos pedir livramento das tentações e forças para vencer as provações (1Co 10.13). Jesus deixa bem claro em sua oração-modelo, que o cristão somente consegue a vitória, vigiando e orando. O próprio Jesus venceu sua grande batalha contra Satanás, com jejum (4.2), e recomendou que seus discípulos também usassem essa arma ao lado das orações, e do contínuo louvor a Deus, contra os desígnios do Inimigo (9.15; 17.21).
2 Jesus escolhe uma palavra aramaica Mâmon para personificar um dos mais poderosos deuses pagãos de todos os tempos: o Dinheiro. O adjetivo Mâmon, deriva do verbo aramaico amân (sustentar) e significa amor às riquezas e dedicação avarenta aos interesses mundanos. Jesus orienta seus seguidores a investir suas vidas na conquista de bens espirituais agradáveis ao Senhor e adverte para a impossibilidade de se servir com lealdade a Deus e ao mesmo tempo amar o deus Dinheiro. Isso não quer dizer que Jesus seja contra os ricos e prósperos, mas, sim, que o amor ao dinheiro é a raiz de todos os males (Gn 13.2; Ec 3.13; 5.10-19; 10.19; 1Tm 6.10). O dinheiro é para ser usado e as pessoas, amadas. A inversão desses valores tem sido a razão de muitas desgraças (Is 52.3; 55.1; Rm 4.4; 1Tm 5.18).
3 A palavra grega psyche (alma) significa: "vida", pois nas Escrituras, "alma" tem um sentido de algo diferente do atual, derivado da filosofia grega, especialmente a partir de Platão. Na Bíblia, a palavra "alma" vem da expressão hebraica nephesh que significa "personalidade" e indica o centro das emoções e apetites. Por isso, em toda a Bíblia, o comer e o beber são considerados como funções da alma. Algumas vezes pode também se referir à vida natural em contraste com a vida espiritual (Hb 4.12). Jesus usa uma figura de linguagem para ensinar duas verdades: "Deus existe, e você não é Ele". As preocupações tentam minimizar o poder de Deus e colocar um peso insuportável sobre nossas costas. A versão de Almeida traduz a expressão grega helikia por "estatura"; porém, melhores originais e estudos mais acurados, mostram que o termo se refere a tempo e idade. Em certo sentido, essa expressão de Jesus poderia ser traduzida assim: "Ninguém ultrapassa, nem por meio metro, o ponto final da sua existência na terra". Por isso, Jesus recomenda um estudo (análise, consideração filosófica) sobre a maneira cuidadosa, generosa e particular com que Deus trata cada um dos seres mais simples da terra, e os reveste de grande glória (1Rs 1-11; 1Cr 28; 2Cr 9; 1Rs 10.4-7). Concluindo: temos uma visão distorcida da vida e de nossas prioridades. Somente a busca do Reino de Deus vai nos colocar em harmonia com o Criador, e, assim, descobriremos a tão almejada paz, justiça e real felicidade (Jo 6.52-59; Jo 10.10, Rm 3.21-31 e 14.17-18).
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Capítulo 7
1 Jesus mostra que é possível ajudar nosso semelhante com conselhos e críticas (v. 5 e 23.13-39), bem como devemos estar sempre dispostos a aprender, avaliar e ensinar (Rm 2.1; 1Co 5.9; 2Co 11.14; Fp 3.2; 1Jo 4.1; 1Ts 5.21).Entretanto, como cristãos, nosso dever é amar antes de julgar. Um coração repleto do amor de Deus não será acusador, mesquinho, invejoso, crítico contumaz ou difamador. A marca do cristão deveria ser seu amor irrestrito e altruísta pelo próximo, em especial por seus irmãos em Cristo (Jo 13.5; Jo 14.15; Rm 12.10; 1Pe 1.22).
2 Jesus usou muitas histórias (parábolas) e figuras de linguagem para ensinar. Em 19.24, por exemplo, Ele fala de um camelo passando pelo fundo de uma agulha. Nesta outra hipérbole, Ele compara uma partícula de serragem ou pedaço de qualquer material com uma grande trave (viga) de madeira usada na estrutura de construções, para destacar a humildade, carinho e sensibilidade que devemos ter para com nosso semelhante, quando tivermos de emitir um juízo, criticar ou aconselhar. Pois somos sujeitos a erros, fraquezas e dificuldades iguais ou maiores que os de qualquer pessoa.
3 Jesus explica que o bem e o mal têm, às vezes, certa semelhança inicial, podendo enganar alguém ingênuo ou desinformado. A pedra a que Jesus se refere era parecida com os pães orientais da época: redondos, achatados e endurecidos (por isso o pão suportava longas viagens e era quebrado para ser servido). A cobra peçonhenta é semelhante às enguias comestíveis, apreciadas pela culinária da época. O Senhor é Pai bondoso e fica feliz em dar os presentes (dádivas) que seus filhos lhe pedem, mas só Ele sabe o que é realmente bom para cada um de nós.
4 Este versículo é conhecido em todos os continentes como "A Regra de Ouro", a manifestação prática do amor cristão. Orienta-nos Jesus aqui quanto ao procedimento diário: o amor, sem egoísmos, deve ser a força motriz das nossas ações (1Co 13.4-8), concedendo ao próximo o que buscamos para nosso próprio bem. Devemos chegar ao ponto máximo do amor e da fé em Deus, que é retribuir com o bem a qualquer pessoa que, por algum motivo, nos ferir ou fizer qualquer mal. Foi assim que Deus respondeu à rebelião e indiferença da humanidade, oferecendo-se em sacrifício, para nos salvar pela Graça (Ef 2.8-9). A "Lei e os Profetas" é uma referência a toda a Escritura Sagrada, tanto em sua letra como em seu pleno conteúdo (Rm 13.8-10; Mt 5.17).
5 Jesus denomina o caminho para o céu de "porta estreita" ou "caminho difícil", em algumas versões "caminho apertado". Não porque Deus tenha diminuído sua generosidade, graça e desejo de salvar a todos (2Pe 3.9), ao contrário, estamos vivendo a "Época da Graça" onde todos – mais do que nunca – são bem-vindos ao Reino de Deus. Entretanto, poucos permanecerão no Caminho, porque jamais foram dele realmente, e não suportam o negar-se a si mesmo, as renúncias do "Eu" nem os apelos de uma sociedade cada vez mais hedonista e materialista. A idéia e a figura dos dois caminhos é muito anterior a Cristo, data de 400 a.C e foi difundida através do trabalho filosófico de Sócrates. O mesmo pensamento reaparece em duas grandes obras do primeiro século depois de Cristo: Didaquê e Epístola de Barnabé.
6 Os doutores da lei (em grego grammateis, nomikoi) e os mestres da lei (em grego nomodidaskaloi) eram técnicos no estudo da lei de Moisés (Torah). Em princípio era uma função reservada aos sacerdotes. Esdras, um homem de Deus, acumulou as funções de sacerdote e escriba (em hebraico sôpherïm). Veja Ne 8.9. Com o passar do tempo, os escribas se tornaram extremamente formais e espiritualmente estéreis. Além disso, muitos se envolveram com o partido político dos fariseus e deixaram de ser imparciais em relação ao ensino da lei. Jesus, entretanto, ensinava com "exousia", em grego, "poder sobrenatural" que a todos deixava maravilhados, pasmos, atônitos (1Co 2.4-5). Isso despertou a inveja e o ódio de muitos "líderes religiosos" contra Jesus Cristo.
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Capítulo 8
1 A lei de Moisés (Lv 13,14) ordenava que em casos de doenças de pele, especialmente a lepra, somente um sacerdote ou seu filho poderia realizar a cerimônia de purificação. O conceito de quarentena (para isolamento e tratamento de doenças infecciosas) teve início naquela época. Para os judeus, a çãra'ath, palavra hebraica para um dos tipos de hanseníase, simbolizava o pecado, por ser nojento, contagioso e incurável. Além disso, o sacerdote que tocava no leproso tornava-se cerimonialmente imundo. Jesus ao curar um homem da mais terrível doença de sua época, revela ao mundo parte de sua natureza e ministério. As instruções mosaicas para o cerimonial de purificação dos imundos tipificam a nossa redenção em Cristo (Lv 14.2-32).
2 A centúria era uma divisão do exército romano, formada por cem homens e comandada por um centurião. Cornélio, um outro centurião gentio, convertido, foi notável exemplo de cristão (At 10).
3 A tradição rabínica considerava o judaísmo como uma garantia herdada e absoluta de entrada no Reino de Deus, e por isso também se dizia: "filhos do reino" (Is 41.8). Embora, os judeus sejam de fato o povo escolhido, Jesus está comemorando a entrada dos gentios (todos os que não são judeus) no Reino do Pai, como verdadeiros filhos (Sl 107.3; Is 49.12; 59.19; Ml 1.11). Jesus demonstra seu lado humano ao ficar admirado (surpreso) com a fé e a compreensão que aquele homem, não-judeu, demonstrou ter acerca do seu poder e autoridade divina. Aproveita o evento para proclamar a salvação para todos os povos e raças (22.1-14; Lc 14.15-24), ao mesmo tempo em que adverte duramente aos judeus quanto ao fato de que a herança da vida eterna e do Reino está em crer em Deus e na aceitação de Seu Filho que veio ao mundo para salvar todos os seus. De agora em diante a humanidade não seria mais dividida entre judeus e gentios (os próximos e os distantes de Deus); mas, sim, entre crentes e descrentes. O padrão de reconhecimento da herança não repousa mais sobre a nacionalidade ou linhagem judaica, mas numa fé sincera e absoluta no Senhor (Sl 147.13,20; Mt 4.17; 9.28; Mc 4.40; 11.22; Lc 5.20; Jo 5.37-47; 8.45; At 14.16). Por isso acontecerá que do oriente e do ocidente (de todo o mundo) virão gentios para o Reino (Is 49.12) e terão o direito de se assentar ao lado dos grandes pais da fé, pois aceitaram a Graça da Salvação (Ef 2.8). Jesus conclui duramente, que muitos judeus, "herdeiros do Reino" (sacerdotes ou filhos do reino) tornaram-se "filhos da desobediência" (piores dos que os pagãos e gentios), razão pela qual serão expulsos para o "reino dos mortos" (sheol, em hebraico e hades, em grego), onde haverá tanto remorso e tristeza que se ouvirá o som do bater dos queixos das pessoas aterrorizadas. Nesse estado intermediário entre a morte e a ressurreição (sheol ou hades), os salvos gozarão de paz e descanso, enquanto os incrédulos estarão na escuridão (um lugar chamado: inferno) e sob tormentos. Na ressurreição, os salvos habitarão plenamente o Reino, e os incrédulos (judeus ou não) sofrerão a segunda morte e serão banidos para o lugar de punição e fogo eterno ou lago de fogo (em grego ten geennan tou pyros). Onde até mesmo o inferno será lançado (Ap 20).
4
Ao contrário do que alguns céticos e críticos afirmam, Jesus não andava com o AT nas mãos procurando cumprir profecias. Mas, a cada instante, um evento admirável ocorria e seus discípulos, e todos os que conheciam a Lei e os Profetas testemunhavam, na pessoa de Jesus o cumprimento de várias profecias messiânicas do AT. Tudo isso diante dos olhos atônitos de todos. Algumas dessas profecias haviam sido escritas há mais de 1.000 anos antes que Jesus começasse a andar pelas terras da Palestina pregando a Nova Aliança, como é o caso do Salmo 22 e outros (Sl 2,8,16,40,41,45,68,69,89,102,109,110 e 118). A profecia de Isaías 53.4 (cerca de 750 a.C segundo os melhores estudos sobre os Papiros do Mar Morto) nos revela que Jesus, o Messias (Palavra hebraica que significa: Rei Ungido, e que foi traduzida para o grego como: Cristo), refere-se ao ministério de cura e libertação de Jesus, cuja obra lhe custou caro fisicamente (Mc 5.30, Lc 8.46). Os cristãos, hoje em dia, podem ter uma idéia desse desgaste físico e emocional quando participam ativamente de qualquer dos ministérios da Igreja: exposição da Palavra, evangelização, louvor, adoração, missões, cura, libertação, aconselhamento, administração, contribuição, ação social e outros, pois a verdadeira obra cristã requer do Espírito Santo (que é o próprio Jesus habitando na vida de cada indivíduo que crê) o mesmo poder demandado da pessoa de Jesus Cristo.
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Capítulo 9
1 Freqüentemente Jesus refere-se a si mesmo como Filho do Homem (Mc 8.38; 13.26, 14.62; Lc 17.24; 21.27). Ele usou essa expressão do AT para descrever seu caráter e missão em termos da visão de Daniel (Dn 7.13). O Filho do Homem se humilhou como verdadeiro ser humano, sendo ao mesmo tempo, o Eterno Vitorioso (Mt 24.30). Além disso, Jesus revestiu essa expressão com a necessidade e o profundo significado dos seus sofrimentos, morte e ressurreição expiatória (Mc 8.31; 9.31; 10.33; 14.21-41; Lc 18.31-33; 19.10; Mt 20.18-28; 26.45; Lc 21.25-28; 22.29-30; Mc 13.26-27; 14.24-25,62; Jo 13.31-32).
2 Cafarnaum foi a cidade onde Jesus permaneceu mais vezes e por mais tempo, por isso era chamada de a "cidade de Jesus" (Mt 4.12,13; 9.9; Mc 2.1; Lc 4.13, 23, 31, 38). Mas, apesar de Cafarnaum ter sido um grande centro comercial, presenciado mais sinais e recebido mais da presença e da Palavra de Cristo do que qualquer outra localidade, Jesus encontrou ali apenas uns poucos seguidores. Por isso o Senhor exclama seu "ai" sobre a cidade (Mt 11.23). Hoje Cafarnaum é um campo de entulhos, chamado Tel Hum. Mateus era um cobrador de impostos a serviço de Roma. Os judeus se referiam a eles como "publicanos e pecadores", pois os consideravam "amaldiçoados" como os gentios (Jo 7.49). Jesus viu, porém, em Mateus, um discípulo e o autor deste Evangelho o chamou, em aramaico akolutheo (Segue-me!), que é uma expressão que significa: "ir atrás de". Na época, essa expressão era um convite de honra. O aluno do profeta, em sinal de respeito, passaria a caminhar atrás do seu mestre (rabino) e, por dois anos, aprenderia as leis do judaísmo. Mateus (Matias, em hebraico), deixa tudo e começa uma nova vida com Cristo (Lc 5.28). Oferece uma ceia, em sua casa (Lc 5.27), para Jesus, os discípulos e seus muitos amigos pecadores. No Oriente e naquela época, convidar alguém para cear em casa era uma grande demonstração de amizade e intimidade e por isso recebia o nome de: "comunhão de mesa". Isso foi o suficiente para provocar a ira de um grupo de fariseus (hassïdïns – leais a Deus - em hebraico; eram os sacerdotes e doutores da Lei, temidos por seu rigor e poder político).
3 O maior e mais agradável sacrifício (holocausto) para Deus é o nosso amor sincero, sem restrições e em plena fé. A enfermidade da qual todos padecemos, inclusive muitos religiosos e líderes cristãos, é a distância do mais verdadeiro e puro amor (em grego: agape) ao Senhor (1Jo 4.16) e aos nossos semelhantes. Jesus pede que os doutores em teologia, filosofia, direito e ética da época, voltem às Escrituras, leiam atentamente Oséias 6.6, especialmente na edição grega do AT, a Septuaginta (cerca de 260 a.C.), e entendam que Ele não estava pactuando com o pecado, mas salvando todos aqueles que reconhecerem nele o Messias, o Filho de Deus.
4 Segundo a lei mosaica, apenas o jejum do Dia da Expiação era obrigatório (Lv 16.29,31; 23.27-32; Nm 29.7). Após o exílio na Babilônia, outros quatro jejuns deveriam ser feitos durante o ano (Zc 7.5; 8.19). Na época de Jesus, os fariseus jejuavam duas vezes por semana (Lc 18.12). Os casamentos judaicos eram grandes celebrações familiares, cujas festas chegavam a durar uma semana e, nessas ocasiões, os convidados eram dispensados da obrigação do jejum, uma vez que esse ato era sempre associado à tristeza. Jesus então faz uma analogia entre as festividades das bodas e seu relacionamento com seus discípulos (os amigos do noivo), dispensando-os do jejum enquanto o noivo (Ele) estiver presente. Jesus jejuava em particular, mas rejeitava a observação da Lei de forma legalista e para autoglorificação (Is 58.3-11). O jejum seria praticado por seus discípulos, após sua ascensão, voluntariamente e para edificação pessoal (Mt 4.2; 6.16-18). Jesus veio estabelecer uma nova ordem para o relacionamento das pessoas com Deus. A lei deve ceder lugar à graça (o novo vinho, a nova aliança). Os odres eram bolsas feitas de pele de cabra, onde se conservava o vinho (Gn 27.28; Êx 29.40; Lv 10.9; Sl 104.15; Ec 10.19; 1Tm 5.23; 1Tm 3.8; Tt 2.3; Rm 13.13; Rm 14.21). À medida que o suco de uvas frescas fermentava, o vinho se expandia. Os odres novos tinham maior resistência e flexibilidade, e se esticavam. Mas os odres usados e envelhecidos não suportavam a pressão e estouravam, colocando o vinho a perder. Jesus usa essa metáfora para revelar que seu novo, puro e poderoso ensino não pode ser recebido pelas antigas formas do judaísmo, nem pelo legalismo religioso.
5 Jesus se agrada da nossa fé e está sempre pronto para nos socorrer em qualquer necessidade. Basta que o procuremos com sinceridade. O verbo grego sõzein significa "salvar e curar". A mulher pensou em salvar-se, livrar-se de uma doença horrível e antiga. Mas Jesus deu-lhe a cura integral, da alma e do corpo, quando a abençoou com a tradicional bênção dos rabinos da época: "a tua fé te salvou". Jesus demonstrou que essa não era apenas uma frase religiosa, mas a indicação de que o Reino de Deus havia chegado para todos aqueles que nele cressem, pois que as palavras de Jesus são acompanhadas de poder.
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Capítulo 10
1 Jesus não veio trazer a paz no sentido de uma religiosidade cômoda e inconseqüente. O verdadeiro cristianismo é uma mudança radical de vida com implicações conflituosas, inadequações e até perseguições cruéis. Algumas vezes na própria família (Mq 7.6) e, com certeza, neste mundo secularizado, materialista e agnóstico. A paz do cristão está em sua plena comunhão com Deus (Jo 14.27) e a terra só verá paz completa na volta do Rei Jesus (Is 2.4). Uma das ofensas que mais feriram o coração de Cristo foi ouvir dos teólogos da época (seu povo e família) que realizava milagres e sinais no poder de Belzebu (9.34; 12.24-29; Mc 3.22; Lc 11.15-19; Jo 8.52). Chamar o Filho de Deus – o cabeça da raça humana – de Diabo, foi uma das maiores blasfêmias já ditas na história do mundo. Belzebu é a forma grega da expressão hebraica Baal-Zebub que se refere a Satanás, o "príncipe dos demônios" e significa: "senhor das moscas" (2Rs 1.2). Por isso, é preciso muito cuidado ao julgar e expressar publicamente opiniões dessa natureza contra qualquer pessoa ou movimento cristão. Em 10.38, pela primeira vez em Mateus, aparece a palavra "cruz". Os cristãos não devem buscar o sofrimento, nem se desesperar diante dele, mas ter a atitude de Jesus: enfrentar as circunstâncias com fé, humildade e coragem. O império romano obrigava seus condenados à morte a caminhar com a trave de suas cruzes nas costas até o local da execução. Os discípulos já haviam visto milhares de judeus serem crucificados, por isso essa ilustração (metáfora) de Jesus foi tão significativa. O crente, salvo por Cristo, deve carregar consigo a mesma cruz: renunciar a si mesmo, para servir com total dedicação ao Senhor Jesus, como mortos para as demandas do sistema mundial e do nosso "eu" (Gl 2.20). Por isso, quem busca freneticamente se dar bem nesta vida, acabará perdendo as bênçãos inerentes à condição dos salvos, agora e eternamente (2Co 5.17). Em 10.42, Jesus conclui esse trecho bíblico fazendo menção notável de recompensa a todos aqueles que ajudam e cooperam com os servos do Senhor no estabelecimento da nova ordem: o Reino de Deus (1Co 15.58; Gl 6.9; Mt 25.35-36).