Notas – Cap. 21 - 25

Capítulo 21

1
Betfagé, em hebraico significa "Casa dos Figos" (Lc 19.29). Segundo o Talmude, era uma pequena vila situada a cerca de um quilômetro a leste de Jerusalém, na encosta sul do monte das Oliveiras. Aqui tem início a última semana da vida humana de Jesus Cristo.

2 Jesus decide entrar em Jerusalém, desta vez, montado em um jumentinho (Jo 12.15). E isso, sob as homenagens das multidões, para demonstrar claramente que Ele era o Messias prometido há séculos (Zc 9.9). O Filho de Davi, escolhido para ocupar seu trono (1Rs 1.33,44). Os potros ou burricos (crias de jumenta), antes de serem submetidos a qualquer trabalho secular, eram especialmente considerados para trabalhos religiosos (Nm 19.2; Dt 21.3; Sm 6.7), e simbolizavam humildade, paz, e a majestade de Davi. Mateus revela o cuidado de Jesus em não apartar o jumentinho de sua mãe e levar ambos consigo para sua procissão triunfal como Rei de Israel.

3 O próprio Jesus usa a expressão: "Senhor" (Senhor de Israel) como seu título divino (16.18). Mateus usou as profecias registradas na Septuaginta (AT em grego), em Is 62.11 e Zc 9.9 para mostrar que a maioria do povo havia compreendido que Jesus era mesmo o Rei-Messias prometido.

4 Hosana é uma expressão grega
(hõsanna), que significa "Salva-nos!" e vem do hebraico transliterado (hôshi´â nã´), que quer dizer: "Salva, Senhor, por misericórdia!" Mateus revela que expressões de júbilo emanavam da multidão, e não que fosse uma frase só a ser repetida indefinidamente. Essa aclamação do povo é baseada em 2Sm 14.4, Sl 118.25-27 e Sl 148.1-2, cantada na Festa dos Tabernáculos e, em Mateus, aplicada a Jesus. Como um ato de homenagem régia, o povo pavimentou, com seus próprios mantos (capas), o caminho por onde passou o Senhor. Com o passar do tempo, a palavra "hosana" tornou-se uma exclamação de louvor e alegria espiritual.

5 O termo grego original (to hieron), que significa "o templo", indica toda a área sobre o monte Moriá, ocupada pelos diversos recintos e a corte do templo. No domingo, após a entrada triunfal, Jesus continua sua obra de purificação da Casa do Senhor, iniciada três anos antes (Jo 2.14). Uma atitude para demonstrar o quanto os judeus haviam ofendido ao Senhor, permitindo que seus corações fossem corrompidos pela ganância, dominados pelo pecado, e faltos de amor sincero para com Deus e com seu próximo. Isso ocorre infelizmente ainda hoje em alguns templos cristãos, e entre seus membros. Jesus citou as Sagradas Escrituras, usando, da versão Septuaginta (AT em grego), os textos de Is 56.7 com Jr 7.11. As ofertas, taxas e compras de animais para sacrifícios no templo só podiam ser pagas com moeda hebraica (siclo hebreu), pois as demais moedas eram cunhadas com a imagem de divindades pagãs ou do imperador, considerado pelos romanos e outros gentios como um deus. Entretanto, esse serviço de troca de moedas (câmbio), compra e venda de animais, e produtos para os sacrifícios, deveria ser realizado com dignidade, no "grande átrio exterior dos gentios", um espaço reservado para essas atividades com mais de 50.000 m2. Todavia, os cambistas estavam explorando os romeiros que vinham de muito longe e com dinheiro gentio para ofertar e sacrificar no templo. Além disso, a venda dos animais cultualmente aceitáveis transformara-se apenas em lucrativo comércio, tanto que a área antes reservada já não comportava os estandes de vendas e haviam invadido até o recinto sagrado. Vários sacerdotes lideravam a corrupção institucionalizada no templo, posto que ao receberem os animais para holocausto, em vez de efetuarem o ritual do sacrifício, matavam apenas alguns deles, e repassavam todos os demais para comerciantes fraudulentos, que os revendiam sucessivas vezes.

6 Os líderes dos sacerdotes e os doutores da lei viram os milagres de Cristo e temeram por suas vidas e negócios. Tentaram enredar o Senhor num sofisma, ao alegar que um mestre tão zeloso como Jesus, não deveria deixar que crianças o adorassem como se fosse Deus. Entretanto, Jesus citou novamente as Escrituras e revelou que mais uma profecia acerca dele se cumpria naquele momento (Sl 8.2). Jesus foi, então, para a casa dos seus queridos amigos Lázaro e suas irmãs, Marta e Maria, que ficava em Betânia, uma aldeia no declive oriental do monte das Oliveiras, uns dois quilômetros a leste de Jerusalém.

7 Mateus condensava suas narrativas, em contraste com o texto dos demais autores sinóticos (Marcos e Lucas). Marcos situa a maldição da figueira na manhã de segunda-feira, mas na terça-feira pela manhã foi que os discípulos, passando por ela outra vez, a observam completamente aniquilada (Mc 11.12-14, 20-25). Mateus, mais tarde, ao escrever seu Evangelho (testemunho ocular da vida, mensagem e sinais de Jesus), segundo a inspiração do Espírito Santo, enfatiza o caráter imediato do Juízo de Deus. Diversas podem ser as inferências teológicas acerca dessa passagem, especialmente em relação a Israel (Os 9.10; Na 3.12). Contudo, a única aplicação que o próprio Senhor Jesus faz, tem a ver com a eficácia da oração que não duvida do poder de Deus.

8 Aqui começa a terça-feira da chamada "Semana Santa". O Sinédrio (supremo juiz da corte de Israel) decide apelar para o legalismo e pede credenciais autorizadas a Jesus por estar realizando um ato oficial no templo. Eles já haviam usado essa estratégia com João Batista (Jo 1.19-25) e, em outra ocasião, com o próprio Jesus (Jo 2.18-22). Os líderes religiosos sentiam em Jesus uma forte ameaça à sua posição, privilégios e lucros financeiros ilícitos. Por isso, procuravam apresentá-lo como um revolucionário, fora da lei, e inimigo de Roma.

9 Grandes oradores e conhecedores do poder da palavra, os líderes religiosos procuram comprometer a Jesus por meio de um questionamento ardiloso. Jesus é levado a declarar publicamente que era o Messias (como o povo aclamava). Assim poderiam prendê-lo e entregá-lo aos romanos. A outra opção seria negar sua autoridade divina, passando então a ser totalmente desacreditado pela multidão que o acompanhava. Jesus apelou para o testemunho de João Batista acerca dele e lhes propôs também uma questão (Jo 1.32-34).

10 As versões de Almeida invertem a posição dos versículos 29 e 30. Entretanto, a Bíblia King James e a NVI seguem a mesma ordem original. Jesus resolve o debate com os sacerdotes, propondo duas histórias (as respostas parabólicas de Jesus). A autoridade maior vem da obediência amorosa e sincera a Deus; não de uma liderança autoritária, maquiavélica e despótica, que depende apenas de títulos e diplomas e, ainda mais, corrompida pela falta de dignidade. Como podem os eleitos para cuidar da Casa do Senhor (autoridades eclesiásticas), rejeitar o dono da Casa e o Evangelho do Reino?

11 Segundo a tradição rabínica, uma "torre" deveria ser construída na vinha, para abrigar o responsável pelo campo, que vigiava a plantação, especialmente quando chegava o tempo da colheita e as uvas ficavam maduras. Era, normalmente, uma plataforma elevada feita de madeira, com cerca de 5m de altura por 2m de lado.

12 Assim como seria um absurdo que os agricultores de um campo arrendado pudessem herdar essa terra ao assassinar seu dono, maior loucura foi os líderes espirituais e teólogos da época imaginarem que a incriminação e a crucificação de Jesus Cristo, o Filho de Deus, lhes garantiria a herança e o domínio de Israel.

13 Ao se escandalizarem com o erro dos outros, sem atentarem para seus pecados, e julgarem severamente os lavradores da parábola de Jesus, os sacerdotes estavam decretando sua própria punição: os judeus que não aceitassem a verdadeira mensagem de Deus em Cristo ficariam sem a herança espiritual. No ano 70 d.C. o Templo e toda a cidade de Jerusalém sofreram a mais arrasadora destruição até hoje registrada em sua história. Uma vez que o Evangelho foi rejeitado pelos judeus, Deus dirige sua graça salvadora aos gentios, salva e convoca Paulo para ser seu apóstolo (em grego apostellõ, enviado por Deus com uma missão específica). Já no segundo século da era cristã, a Igreja era composta, quase que totalmente, por não judeus (gentios).

14 Jesus é o alicerce seguro, a pedra fundamental, para todos aqueles que confessam o seu nome e edificam suas vidas nele, passando assim a fazer parte do grande edifício de Cristo, como pedras vivas (16.18; 1Pe 2.4-5). Entretanto, para os que rejeitam o Senhor, recusando-se a crer em Jesus, o Cristo (o Messias prometido), Ele se torna em pedra de tropeço e de condenação eterna (Is 8.14-15; Lc 20.17; Rm 9.32; 1Pe 2.6-8). Assim como um vaso de barro se despedaça ao ser arremessado contra uma rocha, ou é esmagado ao ser atingido por uma enorme pedra, da mesma forma virá a destruição sobre todos aqueles que rejeitarem o senhorio de Cristo (Is 8.14; Dn 2.34,35,44; Lc 2.34). É importante notar que, mais tarde, o apóstolo Pedro fez questão de salientar que Jesus era a sua Pedra, Rocha Principal, seu Sustentador, e que cada indivíduo deve aceitar a Pedra (Jesus), para ser salvo e ganhar a vida eterna (At 4.8-12).


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Capítulo 22

1
Jesus apresenta o Reino dos céus em outras parábolas, veja no capítulo 13.

2 A proclamação do Evangelho é o doce e insistente convite do Rei do Universo a todo ser humano, para tomar parte em seu maravilhoso banquete de núpcias. Ainda assim, muitas pessoas estão de tal forma iludidas com suas exigências presentes e materiais que se recusam a dar atenção à generosidade divina.

3 Todos aqueles que se apresentam como inimigos declarados do Evangelho, assim como os falsos cristãos, serão destruídos. Da mesma forma como a cidade de Jerusalém foi completamente arrasada e queimada pelos romanos, no ano 70 d.C.

4 Era costume, naquela época e região, o anfitrião fornecer roupas adequadas ao casamento, para os convidados que não pudessem comprá-las. Como esse grupo de pessoas veio diretamente das ruas, todos ganharam suas roupas cerimoniais. Entretanto, um daqueles novos convidados, rejeitou também a hospitalidade e a generosidade do rei. A veste nupcial simboliza a justificação com a qual Cristo veste todas as pessoas que aceitam o dom gratuito da Salvação (Rm 13.14; Ap 19.8).

5 Os fariseus, como nacionalistas radicais, eram contra o domínio romano. Os herodianos, entretanto, como a própria denominação revela, apoiavam o império romano de Herodes. Mas, diante de uma ameaça maior, fariseus e herodianos se unem numa cilada dialética contra Jesus. Os maus se juntam no ataque ao Sumo Bem. Se a resposta de Jesus fosse "Não", os herodianos o delatariam ao governador romano, que teria o direito de executá-lo por traição. Se respondesse "Sim", então os fariseus o denunciariam diante do povo judeu, por deslealdade a Israel e ao judaísmo.

6 O dinheiro usado no império romano para pagar os impostos chamava-se "denário". Uma moeda romana, cujo valor correspondia a um dia de trabalho braçal, criada no governo de Tibério, e que trazia, em um dos lados, o retrato do imperador, e do outro, a inscrição em latim: "Tibério César Augusto, filho do divino Augusto". Jesus explana sua tese de forma magistral e deixa todos atônitos diante de sua devoção ao Pai, sabedoria, simplicidade e coerência. Foi Deus quem deu a César poder e autoridade (Rm 13.1-7). Todos os governos deste mundo, em todas as épocas, vivem de tributos recolhidos do povo. Entretanto, o governo espiritual tem sua moeda própria e eterna: fé, amor, bondade, compaixão, misericórdia (Lc 20.20-25; Gl 5.22-26). O Reino de Deus não é deste mundo. Seu modus vivendi (estilo de vida) é espiritual e visa o benefício de todos os seres e não a exploração do homem pelo homem. Jesus reconheceu a distinção entre responsabilidades políticas e espirituais. Ao governo devemos impostos e obediência, política justa. No tributo às autoridades cívicas, apenas retribuímos parte daquilo que oferecem. Para Deus, devemos nossa adoração, louvor, gratidão, obediência, serviço e a dedicação de todo o nosso ser.

7 Os "saduceus" formavam um partido aristocrático que dominava a vida política dos judeus, inclusive a posição do sumo sacerdote. Não acreditavam na ressurreição, nem na existência dos anjos e, muito menos, na imortalidade da alma. Para eles, a vida era apenas um "aqui e agora" e nada mais. Esse era um dos aspectos que mais lhes causava divergências com os fariseus.

8 Os saduceus apresentaram uma questão fechada para Jesus. Eles aceitavam apenas os primeiros cinco livros da Bíblia como autoridade divina, e há séculos estudavam o assunto sobre o qual interrogaram Jesus. Reivindicaram a lei do levirato (do latim levir, cunhado), promulgada a fim de proteger as viúvas, garantir as propriedades e a continuidade da linhagem familiar (Dt 25.5,6; Gn 38.8), para zombar da doutrina da ressurreição defendida por Cristo e com isso desmoralizá-lo. Entretanto, Jesus usou o próprio Pentateuco para mostrar que eles não estudavam as Escrituras com o devido amor a Deus e por isso erravam. Nos céus não há casamentos e receberemos novos corpos, como os de anjos, entre os quais não há macho ou fêmea. Portanto, debater esse assunto não faz sentido. Além disso, os crentes ressuscitados viverão eternamente, uma verdade firmada no caráter de Deus (Êx 3.6; Lc 20.28).

9 Os fariseus eram muito legalistas, tanto que se emaranhavam em suas próprias leis e decretos. Discutiam sempre sobre quais, dentre suas muitas ordenanças, eram prioritárias para que um judeu alcançasse o Reino dos céus e o Shabbãth (o grande Sábado, ou o descanso eterno). Eles haviam interpretado e abstraído do AT um total de 248 preceitos afirmativos. E mais 365 negativos, que acreditavam ser da vontade de Deus, pois o número coincidia com o número de dias do ano. Além disso, o total desses mandamentos: 613, era o mesmo que o número de letras contidas no Decálogo.

10 Jesus mais uma vez aproveita a oportunidade para mostrar àqueles líderes religiosos e a seus muitos discípulos ao redor, responsáveis pela continuação do ensino das Escrituras ao povo, que a mentalidade divina e o modo espiritual de raciocinar diferiam em muito da limitada e egoísta dialética humana. Jesus então cita Dt 6.5, uma parte do Shema, orações e reflexões diárias dos judeus. Na Septuaginta (o AT em grego) a palavra aqui traduzida por "inteligência" é, literalmente, "mente" (Mc 12.30). O verbo grego traduzido aqui por "amarás" não é phileõ, como em algumas versões, que significa uma afeição entre amigos; mas, sim, o verbo agapaõ: uma obrigação de dedicação absoluta a alguém, determinada pela vontade (Mq 6.8; Am 5.4; Is 33.15; Hc 2.4). Jesus foi o primeiro líder espiritual judeu a combinar os dois mandamentos de amor, para formar o mais sintético resumo da Lei (Lv 19.18), revelando aos fariseus, e a todos nós, que não são os muitos regulamentos e leis que tornam uma pessoa santa; mas, sim, seu genuíno e sincero amor a Deus e a seu próximo mais achegado (familiares), e a seus próximos e vizinhos (comunidade, sociedade).

11 Finalmente, é Jesus quem questiona. Os fariseus eram profundos estudiosos sobre o Messias e sua vinda, como Libertador de Israel. Entretanto, há séculos interpretavam erroneamente a pessoa e a obra do Messias. Imaginavam um rei, pleno de poderes divinos, que viria como guerreiro invencível, para libertar Israel do império gentio e conceder saúde, paz e riqueza ao povo judeu. Conheciam o Messias como Filho de Davi, mas não como o Senhor de Davi (Sl 110.1), tampouco seu domínio espiritual em amor e humildade (Lc 20.42-44). Jesus desejava que os seus compreendessem que ele era o Messias prometido: o descendente humano de Davi e o seu divino Senhor.

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Capítulo 23

1
Os escribas, doutores e mestres da Lei, bem como os fariseus, partido político religioso que defendia a observância literal da Torah (Lei) e mais uma série de ordenanças e preceitos por eles criados para situações não diretamente cobertas pela Torah. Convencidos de que possuíam a correta interpretação da vontade de Deus, afirmavam que a tradição dos anciãos, a lei oral (tôrâ she­be­'al peh) vinha de Moisés e desde o monte Sinai. Fariseus e escribas eram, portanto, os sucessores autorizados da tradição de Moisés como mestres da Lei.

2 Os filactérios ou tefilins eram pequenos rolos ou caixinhas de couro que os judeus religiosos usavam presos à testa, perto do coração, e no braço esquerdo. Essas pequenas cápsulas continham quatro passagens da Torah: Êx 13.1-10 e 11-16; Dt 6.4-9 e 11.13-21. Com o passar do tempo, os judeus começaram a respeitar e honrar esses pequenos recipientes, tanto quanto as Escrituras, e seu tamanho era considerado um sinal de zelo espiritual de quem os ostentava. Os fariseus acreditavam que o próprio Deus usava filactérios. Por isso, eram considerados como amuletos de boa sorte e proteção contra o mal. As "franjas" eram as borlas descritas em Nm 15.37-41 que todo judeu deveria usar. Jesus também as usava nas quatro pontas de seu manto (em Mt 9.20 são chamadas de "orla"), essas borlas eram um tipo de madeixas de lã, branca e azul, e tinham a singela função de declarar o amor de quem as usava a Yahweh (o Senhor) e a vontade do seu coração de cumprir a Torah (ou Torá, a Lei) da maneira mais fiel possível. As borlas tinham o tamanho médio de até 10 cm; entretanto, os fariseus as alongavam muito mais em sinal de maior espiritualidade. O que Deus criou para ser apenas um lembrete de fé e marca de devoção, tornou-se objeto de adoração e ostentação (fetiche).

3 Os mestres da Lei e os fariseus gostavam de ocupar os melhores e mais importantes assentos na sinagoga, aqueles que ficam defronte à representação da arca e que continha os rolos das Escrituras Sagradas. Além disso, os que se assentavam ali podiam ser facilmente vistos por toda a congregação. Eles também apreciavam muito ouvir as pessoas os chamarem, insistentemente, aos gritos e em público (nas praças do mercado) de Rabbei (em grego), que significa literalmente em hebraico: "meu professor, meu mestre!"

4 A expressão "pai" ou "padre" (em hebraico 'abh) não deve ser usada como título de qualquer autoridade religiosa. Jesus faz uma séria advertência quanto à busca desenfreada por reconhecimento e prestígio, coisas que alimentam a soberba humana. Entretanto, devemos ter cautela com possíveis aplicações de literalismo insensato dessas passagens. Jesus está ensinando princípios de vida espiritual a quem só conseguia enxergar regras exatas de comportamento religioso. Os cristãos, líderes (em grego kathegetai, guias ou dirigentes) ou não, devem ser conhecidos por um espírito e atitudes diaconais (em grego diakonos, servo).

5 "Ai" é uma expressão de profunda tristeza e indignação da parte de Deus, expressa através dos lábios do seu Filho contra a falsidade (hipocrisia) dos maiores conhecedores das Sagradas Escrituras da época e líderes religiosos dos judeus, o povo do Cristo (Messias). Essa atitude apenas legalista, arrogante, soberba e desprovida de sincero amor a Deus e às pessoas, fazia que os "prosélitos" (pagãos e gentios que se convertiam ao judaísmo) se tornassem ainda piores que seus mestres e não tivessem verdadeira comunhão com Deus, o Pai (em aramaico: abba). Esses líderes religiosos e juízes de direito, eram tão dissimulados que chegavam a usar suas posições como juristas para processar viúvas ricas ou para fazer que elas lhes legassem suas propriedades.

6 Com relação aos juramentos, Jesus argumenta com os mestres fariseus, com seus próprios pressupostos em relação à Lei, para lhes revelar o verdadeiro espírito da Lei e a vontade de Deus (5.33-37).

7 Oferecer ao Senhor a décima parte (o dízimo) de diversas ervas era uma prática religiosa baseada em Lv 27.30. Embora o dízimo dos grãos, frutos, vinho e azeite fosse o exigido, dos judeus, pela Lei (Nm 18.12; Dt 14.22-23), os escribas e fariseus haviam ampliado a lista dos itens especificados na Lei, para incluir o dízimo das menores e mais simples hortaliças. A hortelã era usada como tempero e para adornar o chão das casas e sinagogas. O endro era usado como medicamento e para perfumar ambientes. O cominho, que são as sementes de erva-doce, tinha vários usos culinários. Entretanto, o valor comercial dessas ervas era mínimo; mas os fariseus desejavam mostrar ao povo um zelo religioso que, na verdade, não fazia parte de suas vidas com Deus e com seus próximos.

8 Os escribas e fariseus coavam com muito cuidado toda água que bebiam através de um pano branco, bem tecido, para ter certeza de não engolir nenhum pequeno mosquito; considerado pelos religiosos como o menor ser vivo impuro. Entretanto, figuradamente, engoliam um camelo inteiro, um dos maiores animais impuros para os judeus, ao praticarem uma série de fraudes, atrocidades e pecados.

9 Por ocasião da celebração da Páscoa, época em que os peregrinos de várias partes da Palestina iam a Jerusalém, e momento no qual Jesus está falando, era costume pintar, várias vezes, toda a parte exterior dos sepulcros (túmulos) com cal. Isso para que os túmulos pudessem ser vistos inclusive à noite, uma vez que, pela Lei, se alguém pisasse sobre um túmulo ou área de sepultura tornava-se instantaneamente impuro (Nm 19.16). Por isso, todos pareciam iguais, limpos, belos e puros; mas em seu interior jazia a morte, o mau cheiro e a podridão.

10 Os líderes religiosos judaicos no tempo de Jesus estavam acrescentando pecados sobre pecados à longa lista de seus pais (antepassados) históricos. Jesus também seria um dos profetas martirizados. Seus apóstolos não seriam igualmente aceitos (10.17,23). E Jesus resume a história dos martírios no AT citando o assassinato de Abel (Gn 4.8; Hb 11.4) e o martírio do profeta Zacarias registrado no livro de Crônicas. Na Bíblia Hebraica, o último livro do AT (2Cr 24.20-22).

11 O próprio Jesus reconhece que os seus próprios irmãos não o receberam. Deus tem feito tudo para seu povo, mas a rejeição de Israel ilustra o coração empedernido da raça humana, em relação ao seu Criador (Jo 1.11).

12 Jesus faz referência a 1Rs 9.7-8; Jr 12.7, 22.5 e adverte seu povo. No ano 70 d.C. toda a nação de Israel e, em especial, a cidade de Jerusalém, foram assoladas e profanadas pelos exércitos pagãos de Roma.

13 Jesus se despede de Jerusalém e do seu povo, declarando que não os ensinaria mais em público até sua volta em glória no final dos tempos, quando Israel o receberá como o Messias que fora rejeitado (Zc 12.10). De agora em diante a salvação dos judeus, como de qualquer outra pessoa sobre a face da terra, do mais alto líder religioso ou político ao mais simples ser humano, só tem uma única possibilidade: a confissão do Senhor Jesus Cristo, como Salvador, Senhor e Filho de Deus (21.9, Sl 118.26).

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Capítulo 24

1

O primeiro Templo foi idealizado por Davi (2Sm 7.2; 1Cr 22.8,3; 2Sm 24.18-25). Entretanto, coube a Salomão (em hebraico transliterado shelômõh, homem de paz), seu filho com Bate-Seba (2Sm 12.24), a honra da sua construção, que teve início no quarto ano do seu reinado e foi concluída sete anos mais tarde. Mas o filho de Salomão, Reoboão, não deu a mesma atenção ao Templo e sucessivas pilhagens ocorreram desde Sisaque, do Egito (1Rs 14.26), até a invasão de Nabucodonosor em 587 a.C. (2Rs 25.9,13-17). Mesmo depois de sua destruição, alguns fiéis ainda iam oferecer sacrifícios entre suas ruínas (Jr 41.5). Hoje em dia não há qualquer estrutura do antigo Templo de Salomão acima do nível do chão. Porém, curiosamente, sobre os seus escombros foi construída a mesquita mulçumana, conhecida como "Cúpula da Rocha", destaque na maioria dos cartões postais de Israel (2Cr 3.1; 2Sm 24.24). O segundo Templo foi erguido por ocasião do retorno dos exilados da Babilônia, cerca de 537 a.C, conforme autorização e ajuda de Ciro, rei da Pérsia, e do ministério de Neemias e Esdras (Nm 2.11-20). Toda a área teve de ser limpa do entulho do primeiro Templo destruído (Ed 1; 3.2-10). A arca havia desaparecido no tempo do exílio e jamais foi encontrada. No lugar do candelabro de Salomão, com dez lâmpadas, foi colocado um novo, com sete hastes, juntamente com uma mesa de ouro para os pães da proposição e o altar do incenso. Esses e outros objetos sagrados foram tomados como despojos pelo rei da Síria, Antíoco IV Epifânio (entre 175 e 163 a.C.), o qual colocou um altar e uma estátua pagã no lugar santo, no dia 15 de dezembro de 167 a.C. Os macabeus venceram os sírios e purificaram o Templo (1Macabeus 1.54; 4.35-59), substituindo todos os seus móveis e transformando o Templo numa fortaleza que lhes permitiu resistir durante três meses ao cerco de Pompeu (63 a.C.) quando foi, então, destruído (os livros dos Macabeus, com alguns outros, não são considerados canônicos, por isso não fazem parte da maioria das Bíblias evangélicas em língua portuguesa, entretanto, muitos de seus relatos históricos são dignos de crédito). A terceira construção, chamada de Templo de Herodes, começou no ano 19 a.C., mas seu motivo principal não foi glorificar a Deus, e, sim, reconciliar os judeus com o seu rei gentio (idumeu). Mesmo assim, o rei teve grande cuidado com a reverência ao Templo, convocou mil sacerdotes que foram treinados como pedreiros para conduzir a edificação do santuário, e procuraram construir uma cópia do Templo de Salomão. Em uma área com mais de 144.000 m2, ergueu-se uma magnífica estrutura de pedras creme, adornadas de ouro. Um muro feito com blocos de pedras com 60 cm de largura por até 5 metros de comprimento circundava o Templo. Contudo, alguns anos após o término da construção, exatamente 40 anos depois da profecia de Jesus, durante as celebrações da Páscoa judaica, as tropas do comandante romano Tito tomaram posição de combate, às portas de Jerusalém. A cidade estava em festa e repleta de judeus de todas as partes. Os dois mais poderosos partidos judaicos, que deveriam estar atentos à defesa da cidade contra Roma, achavam-se em violenta guerra interna, a ponto de incendiarem os estoques de alimentos um do outro. Somente quando os enormes aríetes dos romanos arrebentaram o primeiro portão de Jerusalém foi que os políticos decidiram se unir contra o invasor. Tarde demais. Tito incendiou tudo, e até as pedras foram separadas para colher o ouro derretido que se infiltrara nas junções. O comandante romano deixou apenas um resto da muralha, como símbolo do aniquilamento de Israel, conhecido em nossos dias como 'Muro das Lamentações'. Mais de um milhão de judeus morreram naquela época. Todas as estradas que passavam por Jerusalém estavam tomadas por judeus crucificados. Os sobreviventes foram vendidos ou negociados como escravos. Israel desapareceu como nação e os judeus foram espalhados pelo mundo inteiro, sob a maior humilhação já sofrida por um povo até nossos dias. Em homenagem à marcha triunfal de Tito, foi construído o arco do triunfo, o "Arco de Tito". Esse monumento persiste em Roma até hoje e mostra, em seus trabalhos de escultura, cenas das legiões romanas carregando os objetos sagrados e valiosos do Templo, e os mais valorosos guerreiros judeus algemados. Tito profanou o Templo, entrando no santo lugar, despojando todo o tesouro e utensílios preciosos, tais como o grande candelabro de ouro maciço, uma réplica dourada da arca com os preciosos rolos sagrados da Lei, a mesa de ouro e muitos outros objetos preciosos. Finalmente, o imperador Vespasiano, pai de Tito, declarou toda a nação de Israel como sua propriedade particular e doou grandes propriedades a seus amigos e colaboradores, entre eles o conhecido historiador judeu e fariseu, Flávio Josefo, cujo carisma e poder intelectual haviam conquistado a amizade do rei e a cidadania romana.

2 Jesus se retira do Templo e sobe com os discípulos em direção ao monte das Oliveiras - uma cordilheira, a leste de Jerusalém, do outro lado do vale Cedrom, com quase dois quilômetros de extensão e cerca de 70 metros acima do nível da cidade (Mc 11.1). De agora em diante, nunca mais entrará no Templo. Tudo é parte da grande visão profética de Ezequiel, que viu a glória do Senhor abandonar a cidade de Jerusalém e o Templo, mais precisamente em direção ao monte das Oliveiras (Ez 8.4-6). Naquele momento estava se cumprindo a Palavra do Senhor que veio a Ezequiel em 592 a.C. Ao chegar ao alto do monte, Jesus lança um último olhar sobre a cidade amada que o rejeitou. Ao pôr-do-sol, senta-se com seus discípulos e ficam observando a noite chegar sobre o Templo e o povo de Jerusalém. Jesus não revela quando sucederão essas coisas, mas responde, em forma de profecia, às demais questões: O fim dos tempos entre os versículos 4-14; a destruição de Jerusalém entre 15-22 (Lc 21.20), e o glorioso retorno de Jesus Cristo entre 23-31.

3
A expressão grega, aqui transliterada por bdelugma tes eremoses vem do hebraico shiqquçe shõmem e significa: "a profanação horrível", "o sacrilégio terrível", ou ainda, como em versões antigas: "o abominável da desolação". Essas são formas de traduzir o significado literal da frase original: "a coisa abominável que causa horror e repulsa" (Dn 9.27; 11.31; 12.11). Jesus ressalta que os leitores do livro escrito pelo profeta Daniel poderão compreender melhor o que ele está dizendo. Jesus faz referência a um tipo de idolatria tão perversa e antagônica a todos quantos crêem no Pai de Cristo, como ocorreu no ano 168 a.C., quando o rei Antíoco Epifânio erigiu um altar a Zeus no lugar do altar de Jeová (em hebraico
 transliterado por Yahweh – 1Macabeus 1.54-59; 6.7; 2Macabeus 6.1-5). Assim também aconteceu no ano 70 d.C., quando os romanos ofereceram sacrifícios pagãos em Jerusalém, no lugar sagrado, ao proclamar Tito imperador supremo (2Ts 2.4; Ap 13.14-15). A história registra que muitos cristãos e judeus, pouco antes do ano 70 d.C., lembraram-se das palavras de Jesus, cumpriram à risca as orientações proféticas e tiveram suas vidas salvas daquelas catástrofes e perseguições. O Grande Retorno de Jesus, em glória, marca o final da ordem mundana, na qual vivemos. Porém, antes disso, surgirão muitos enganadores, falsos messias (cristos), o tema guerra e terrorismo dominará a mídia mundial, tribulações, terremotos, vulcões, tempestades, alterações na atmosfera, no clima, falsos profetas por toda parte, multiplicação da iniqüidade (maldade) e da arrogância cientifica, lascívia, bestialidades, esfriamento do amor e das virtudes morais e éticas. Todos esses são apenas sinais que criam o ambiente para a manifestação do maior dos sinais: a pregação do Evangelho até os confins da terra (28.18-20). Então virá o fim.

4 A história registra que muitos cristãos, pouco antes do ano 70 d.C., fugiram de Jerusalém e se refugiaram nas montanhas da Transjordânia, onde se localizavam as terras de Pella. Fuga semelhante haverá num período futuro de tribulação conhecido como a 70a Semana de Daniel (Dn 9.27). Entretanto, aquelas pessoas que verdadeiramente crêem no Senhor (os salvos, a Igreja), serão arrebatadas da terra no exato momento em que Cristo cruzar a atmosfera da terra. Os cristãos não precisarão fugir, apenas devem perseverar até o Dia do Senhor.

5
Gestantes, idosos e pessoas com deficiência física terão maior dificuldade naqueles dias de tribulação e perseguição. Mateus, como escreve principalmente aos judeus, observa os detalhes do inverno e do sábado, dia em que os judeus somente podiam caminhar 800 metros.

6 O historiador judeu-romano Flávio Josefo foi testemunha ocular desta terrível tribulação e narra o episódio com palavras parecidas às de Jesus. Entretanto, aquela grande tribulação foi apenas mais um sinal da maior das tribulações ainda por vir (Dn 12.1).

7 Este último e terrível tempo de aflição será abreviado em relação ao que já havia sido pré-determinado nas profecias (como a 70a Semana de Daniel – Dn 9.27, ou os 42 meses mencionados em Ap 11.2; 13.5). Os eleitos são o povo de Deus em todo o mundo, a Igreja de Jesus Cristo.

8 Compare esta descrição com a pessoa do anticristo revelada em 2Ts 2.9-10.

9 Que ninguém se iluda. A segunda e definitiva volta de Jesus Cristo será um evento portentoso. Em segundos, a glória e o brilho da sua presença varrerão o planeta, e os salvos (sua Igreja) serão arrebatados, sumindo instantaneamente de toda a terra. (27, 31, 1Co 15.12; 1Ts 4.16,17). Jesus cita um antigo provérbio para explicar que seu glorioso retorno será tão certo quanto o esvoaçar dos urubus (abutres: aves falconiformes e vulturídeas comuns no Oriente e Europa) sobre um cadáver. Ou seja, o mundo está moribundo e os urubus já sobrevoam aqueles que morrerão e lhes servirão de banquete (Lc 17.37).

10 Fenômenos cósmicos acompanharão a volta triunfal do Filho do homem (Mc 8.31, Ap 1.7). O brilho, como um relâmpago, que o mundo inteiro verá, é a Shekinah: a glória do Senhor (Is 13.10; 24.21-23; 34.4; Ez 32.7-8; Jl 2.10,31; 3.15; Am 8.9, 2Ts 1.6-10; Ap 19.11-16).

11 No Oriente as figueiras anunciam o início do verão, quando renovam seus ramos e novas folhas brotam. Esse evento é tão certo e esperado quanto o será a volta de Cristo, e por isso todos os cristãos devem estar preparados para não serem apanhados de surpresa, como acontecerá com o mundo descrente. Jesus ainda afirma que a geração que presenciar o início dos sinais também verá sua volta triunfal. A expressão "geração" (em grego antigo genea), também podia significar "raça" ou "família" e, por certo, Jesus fez referência à profecia de que o povo judeu não seria exterminado da terra por mais que seus muitos inimigos, em todas as épocas, tenham se empenhado nesse objetivo (Mc 13.30; Lc 21.32). As palavras de Jesus são todas mais verdadeiras e duradouras que o Universo.

12 O Dia do Senhor é uma expressão que se refere ao AT como o dia em que Jesus voltará em glória para levar seu povo (a Igreja) para a Nova Jerusalém (Am 8.3,9,13; 9.11; Mq 4.6; 5.10; 7.11). Mas o dia exato desse evento a ninguém foi revelado, e Jesus, enquanto esteve na terra, também não pretendeu saber, pois decidiu em tudo obedecer ao Pai e viver pela fé como todo ser humano deveria.

13 Jesus dedica seis parábolas para enfatizar a extrema necessidade da vigilância, enquanto estamos vivos na terra e ele não retorna: O porteiro (Mc 13.35-37). O pai de família (Mt 24.43-44). O servo fiel (24.45-51). As dez virgens (25.1-13). Os talentos (25.14-30). As ovelhas e os bodes (25.31-46). A vida passa, e passa muito rápido. É preciso estar com a consciência tranqüila de que amamos ao Senhor e buscamos praticar sua vontade em todas as áreas de nossa vida íntima e relacional.

14 Jesus nos adverte de que perto da sua volta, o mundo estará descrente, religioso talvez, mas sem a convicção da salvação nem da militância evangélica. O poder do sistema mundial forçará muitos religiosos a se afastarem de Deus e de sua Palavra. Intérpretes de um "evangelho" que não é o de Cristo conduzirão milhões de pessoas à perdição. Até os cristãos fiéis correrão o risco de ser enganados por um estilo de vida massificado pelo sistema (globalização do pensamento humanista, cético e hedonista) e serão apanhados de surpresa pela iminente volta do Senhor. Não é sábio tentar calcular a data do retorno de Jesus. É mais errôneo, porém, negligenciar esse evento fatal. A expectativa da volta de Cristo confere senso de urgência e dinâmica à missão evangélica em toda a terra. A parábola do "bom e mau servos" ensina como o filho de Deus deve viver sua vida cristã (45-51).

15 O contexto revela que "hipócrita" é aquele cuja vida prática não corresponde à sua alegada fidelidade a Cristo. A expressão "ranger de dentes" só é usada em Mateus (8.12; 13.50; 22.13; 24.51; 25.30) e tem a ver com o profundo, doloroso e eterno arrependimento que os incrédulos e os falsos cristãos (hipócritas) sentirão a partir do Dia do Senhor.

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Capítulo 25

1
Havia duas fases nos casamentos judaicos típicos da época de Cristo. Na primeira, o noivo ia à casa da noiva e participava da cerimônia de entrega da noiva. Na outra fase, o noivo voltava e a levava para um grande banquete em sua casa. As virgens eram damas-de-honra e tinham o dever cerimonial de preparar a noiva para o encontro com o noivo.

2 Essas candeias eram grandes tochas, capazes de permanecer acesas ao ar livre, feitas com longas varas, com trapos enrolados numa das pontas, embebidos em azeite de oliva. Pequenas candeias de barro eram comumente usadas no interior das residências.

3 Quando o azeite era consumido pelo fogo cortavam-se as pontas chamuscadas dos trapos e adicionava-se mais óleo para um novo período médio de iluminação de 15 minutos.

4 Essa parábola é continuação da mensagem de Jesus sobre a necessidade do cristão estar sempre preparado e vigilante, pois a volta do Senhor é certa, repentina e iminente. Essa expectativa quanto ao glorioso retorno de Jesus confere ética, dinamismo e senso de urgência à evangelização e ao estilo de vida cristão. A mensagem de Cristo é também um forte apelo aos israelitas em todo o mundo, para que coloquem sua esperança no Noivo Eterno: O Senhor Jesus. Ele é o Messias prometido. A parábola das dez virgens, como é conhecido este trecho das Escrituras, não está ensinando que Cristo arrebatará os atentos e preparados espiritualmente e deixará para trás "crentes" distraídos ou negligentes. Se cinco virgens ficaram sem óleo (o Espírito) é porque nunca creram verdadeiramente no Senhor, pois todo o que crê – recebe o Espírito Santo – e será salvo (24.13; Jo 1.12; Hb 3.13-14).

5 Um talento correspondia à cerca de 35 quilos de prata pura, o equivalente a 6.000 denários (o denário, como já vimos, era uma moeda de prata e valia um dia de trabalho de um soldado romano). Deus concede, aos cristãos, fé e capacidades espirituais para, em primeiro lugar, compreenderem a pessoa e a obra do Seu Filho Jesus, e, em seguida, para servirem no Reino: testemunhando, anunciando a Salvação e cooperando com o Corpo de Cristo, a Igreja. Curiosamente, o uso atual da expressão portuguesa "talento", significando o conjunto de dons, capacidades e habilidades de uma pessoa, originou-se com base nessa parábola (Lc 19.13). Jesus não está ensinando que o julgamento das pessoas em geral e dos cristãos em particular tem algo a ver com o esforço pessoal e o pleno uso dos dons e capacidades, pois o caminho da Salvação é bem diferente. O uso dos talentos é apenas uma conseqüência natural na vida diária de quem já foi contemplado, abraçou a fé em Jesus e agora vive a alegria da Salvação, mesmo em meio aos sofrimentos deste mundo. É um julgamento semelhante àquele pronunciado contra o convidado que comparece à festa eterna sem vestir-se da justificação (salvação) em Cristo (22.12-14).

6 A palavra "banqueiro" vem do grego trapeza (mesa), e ainda hoje é comum ver essa palavra nas fachadas das instituições financeiras na Grécia. Na época de Jesus, os "banqueiros" eram pessoas que ficavam sentadas atrás de pequenas mesas e trocavam dinheiro (21.12). Outra palavra interessante é "juro", que tinha o sentido de "prole", ou seja, os juros eram considerados "filhotes" do principal emprestado ou investido.

7 Os escravos foram libertos e elevados à posição de servos (mordomos), aos quais aquele senhor confiou todos os seus bens. O servo que não fez uso do talento concedido, agiu assim porque não gostava do seu senhor e desconfiava dele. Não queria trabalhar e se arriscar apenas para tornar o senhor mais rico. Preferiu a conveniência e a tranqüilidade de uma aparente isenção de responsabilidade. Os dons e talentos de Deus multiplicam-se quando os utilizamos, pois transformam nossas vidas e ficamos preparados para receber ainda mais da plenitude do Espírito Santo. O amor de Cristo em nós gera mais amor, a fé mais fé, o caráter mais caráter de Deus nos crentes, e a obediência à Palavra do Senhor produz uma fonte de virtudes que influencia todo o ambiente (2Pe 1.3-7).

8 Jesus ensina que o grande pecado do ser humano é a falta do exercício do amor verdadeiro: primeiro em relação ao seu Criador e depois para com seu semelhante e próximo (Tg 4.1-17). Há duas interpretações escatológicas mais aceitas, sobre esse aspecto do Julgamento: 1) Vai acontecer no início de um reino milenar na terra e definirá quem terá o direito de fazer parte do Reino (vv.31,34), com base no tratamento dispensado ao povo israelense ("meus irmãos, mesmo que ao menor deles" – vv.40-46) no período anterior à Grande Tribulação (vv.35-40, 42-45). 2) Para muitos estudiosos, o Julgamento ocorrerá diante do Trono Branco no final dos tempos (Ap 20.11-15). Seu objetivo será identificar as pessoas de todas as épocas, culturas, povos e nações que poderão ingressar no reino eterno dos salvos e aqueles que serão condenados a viver em punição eterna no inferno (vv.34,36). A base desse julgamento definitivo será a atitude de amor com a qual, aqueles que afirmam crer em Deus, trataram seus irmãos e semelhantes (1Jo 3.11-24).

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